" Só somos porque estamos sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser." Paulo Freire

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

INGLATERRA


Lembrai-vos dos Sex Pistols

Professor-titular de História Moderna e Contemporânea da UFF faz considerações sobre as recentes revoltas na Grã-Bretanha

Luiz Carlos Soares
     

Muito tem se falado e discutido sobre as recentes revoltas que abalaram as principais cidades da Grã-Bretanha no início deste mês de agosto. Especialistas são convocados para dar a sua opinião acerca dos fatores que “causaram” as riots (como os britânicos designam as revoltas em geral) e as medidas que poderão ser tomadas para evitá-las futuramente.
A grande maioria dos entrevistados tende a opinar de acordo com a voz dominante da imprensa e da política britânicas, no sentido de vê-las como movimento de “arruaceiros” e “criminosos” contra a “tranquilidade pública”, com seus ataques a determinados prédios e estabelecimentos comerciais. Já as vozes discordantes da cantilena oficial, como o jornalista e escritor Tariq Ali, indicam em geral que, na raiz dos problemas, está a política de desmantelamento do estado de bem-estar social executada por governos neoliberais, desde o início dos anos 1980, com a conservadora Margareth Thatcher, passando pelo “Novo Trabalhismo” de Tony Blair e Gordon Brown, até chegar ao conservador David Cameron, que aboliram uma série de benefícios sociais, criaram uma situação de desemprego elevado (sobretudo entre os jovens) e atacaram os sistemas públicos de educação e saúde, levando-os a uma significativa perda de qualidade e capacidade de atendimento efetivo à população.
Sem querer negar os elementos apontados pelas vozes críticas, gostaria de trazer um outro elemento para este debate, também apontado pelo jovem escritor britânico Owen Jones, autor do livro “Chavs: the demonization of the working class” (“Chavs: a demonização da classe trabalhadora”), que focaliza a tendência, cada vez mais crescente, de seus compatriotas, de certos setores da mídia e da intelectualidade conservadora, de transformar a classe trabalhadora em objeto de medo (criminalizando seus comportamentos sociais) e escárnio (ridicularizando seus hábitos de consumo e estilo de vida). Além disso, Owen Jones aponta que esta tendência está claramente enraizada na cultura política dominante na Grã-Bretanha, que, por sua vez, reflete uma rígida estrutura de classes, onde a ascensão dos segmentos mais pobres é bastante limitada.
É sobre esta linha de raciocínio que gostaria de me debruçar.



Retirado do site:www.revistadehistoria.com.br

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